sábado, 4 de abril de 2020

Inverno

Eu me apaixonei poucas vezes na vida.

Tenho um temperamento frio-seco que me impede de achar "maravilhoso" estar apaixonada, como vejo as pessoas acharem. Eu detesto estar apaixonada. É perturbador e inconveniente.

A última vez tinha sido em 2010, mas em 2019 eu me flagrei que estava perdida, e que provavelmente tinha começado em 2018. 

Eu sempre reflito sobre as coisas que eu penso e sinto. Eu sempre me pergunto como cheguei naquele desfecho, sentimento ou conclusão. Isso me ajuda a ver melhor o todo e tomar decisões mais racionais, mais lógicas.

Dessa vez foi (na verdade ainda está sendo) muito impactante, porque me atingiu em diversos preconceitos meus contra mim mesma. Aquelas coisas femininas de preocupação com a idade, com o peso, com a beleza. 

Eu demorei para me flagrar que estava apaixonada. Quando me flagrei, sofri. E sinto ainda, e é uma dor física. Não sou correspondida, o que piora e incrementa absurdamente todos aqueles preconceitos.

É outono na minha vida. Não há mais tempo nem razões para que eu me deixe levar por uma paixão. Ainda é verão na vida dele (embora ele não veja, não perceba), é o auge de tudo.

Mas para uma pessoa calculista e ~horrorosamente~ fria, é difícil não ser narcisista. Eu percebi que olho diretamente para um espelho. Me vejo, integralmente, exatamente como eu era, quando olho para ele. Eu o admiro porque admiro a mim mesma. Estraguei o "verão" da minha vida fazendo e sendo exatamente o que vejo ele fazer e ser. Ficou claro para mim que eu admiro a minha pior versão. Estou ali, espelhada nesse indivíduo que desejo tanto.

Talvez eu deseje apenas reviver minha pior fase por meio de outra pessoa.

Talvez eu seja tão absurdamente narcisista que seja incapaz de amar alguém diferente de mim (que é exatamente o que eu devia procurar). 

Eu vejo nele as minhas posturas, ouço dele as minhas falas, percebo nele os meus mesmos bloqueios, o inconfundível arsenal de justificativas e muros que também já usei como escudo e defesa, e mesmo assim, mesmo entendendo que estou presa a um espelho, não consigo deixar de querê-lo. 

Não correspondida e tendo que conviver de forma próxima, o meu sofrimento é mórbido e masoquista. Não há desespero, não há lágrimas. Não há nada além desse sentimento platônico e que me mantém fiel a quem não me deseja e não se importa. 

Logo vai ser inverno em 2020, e em alguns anos, vai ser inverno na minha vida também. Não falta muito. 

Há um trabalho de convencimento que preciso fazer em mim mesma, de deixar essa paixão de lado, e abandonar qualquer pretensão de concretizar qualquer fantasia.

Mas eu me perco quando ele sorri, quando ele fala de coisas que gosta porque seus olhos brilham. Me sinto completamente seduzida por sua meninice e pela aura magnética que ele não percebe que tem.

As folhas vão começar a cair para mim e não consigo evitar o pensamento magoado de querer mais tempo e chance de ser importante para ele, sabendo que não vai acontecer.

Saber que o tempo acaba é a maldição do ser humano.
Estar em estação diferente de quem se ama é uma dor sem remédio.





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