Minha princesa está muito doente.
No ano passado, exatamente nessa mesma época descobri um nódulo do tamanho de um feijão em uma de suas maminhas.
Rapidamente esse nódulo ficou do tamanho de uma bola de pingue-pongue. Em questão de duas a três semanas.
Levei ao veterinário, que solicitou exames de sangue e raio-x dos pulmões. No Exame de sangue foi detectada a baixa imunidade, em decorrência do processo inflamatório. Na radiografia, tudo certo. Fui informada de que o surgimento desse tipo de tumor geralmente é maligno em felinos.
Foi realizada uma cirurgia para retirada do nódulo, que ocorreu sem problemas.
O veterinário disse que poderia voltar, o que de fato aconteceu. Só que agora não consigo operar, porque a metástase foi mais esperta dessa vez: começou em um ponto em que eu não conseguia sentir, e agora cresceu horrívelmente. Um tumor maligno enraizado em músculos, além da cadeia mamária.
Cresceu, rompeu e está muito feio.
Ela está tendo falta de ar, e uma gripe chata com espirros que não a deixam dormir. O exame de ecografia abdominal será feito na terça-feira. Já sei o resultado. Minha princesa vai me deixar, dentro de pouco tempo. Tento me conformar, pq de qualquer forma ela não duraria para sempre, e já tem 13 anos.
Há pessoas que me apedrejam pela afeição ao meu bichinho. São as mesmas pessoas que brigam pra ver quem fica com “a xicrinha que era da vó”. Que focam suas felicidades em TER, não em SER.
Ela é parte de mim. E nestes 13 anos, ela brincou comigo, me consolou quando eu estava triste, me agradou com seus carinhos, brigou quando eu exagerava nos meus, dormiu comigo, me fez levantar à noite para lhe dar alguma guloseima e voltamos correndo pra cama, onde ronronava numa prova inegável de satisfação. Ela me fez companhia quando eu não desejava a companhia de mais ninguém. Ela fez os silêncios necessários, com seu afeto genuíno, transbordante de reciprocidade.
A Dídi é dona de uma personalidade única, marcante. Smpre me ensinou muito (e ainda está) sobre a minha própria natureza, sobre como lidar com o mistério da vida. Ja escrevi outras vezes sobre gatos, e quem os tem (e presta atenção) sabe do que estou falando.
Enquanto escrevo, ela está aqui, deitadinha, num momento raro no último mês de sono tranquilo.
Eu não quero assisti-la definhar até morrer, então estou decidida a eutanasiá-la ao menor sinal de dor, abatimento causado por falta de apetite ou sede. Por enquanto, ela ainda está bem disposta, come bem, toma água, e de manhã, gosta de tomar sol. Brinca comigo, me tomando lápis ou borrachinhas de cabelo. Entendo com isso que ainda temos um tempinho.
Mas vejo ela estar ofegante, e percebo que ela sente dor em alguns movimentos ou posições.
Sempre digo que sofrimento é opcional, mas a tristeza é inevitável. Não posso fazer nada, e quando o resultado do exame dos pulmões vier, será decisivo para tentaiva de uma nova operação.
Sobrevida, na verdade. Até onde posso interferir…?
Ela é a menina dos meus olhos, minha gatinha querida. Se sabe preferida, se sabe amada. Minha menininha.
Quem não tem animais de estimação, ou não gosta deles, não sabe e não consegue jamais estimar o valor deles em nossas vidas. Se não tenho EU um câncer, é porque ela existe, e se não estou EU a tomar toneladas de psicotrópicos e antidepressivos é porque ela existe.
Eu já sei. Tenho tentado me preparar, e encarar com naturalidade. A morte é mais um ciclo e todos aprendemos e ensinamos com cada detalhe do que acontece em nossas vidas. Eu que sou tão rude, e tão fria, fui capaz de aprender a amar incondicionalmente. Ela tão pequena e tão “limitada” foi capaz de ser minha professora. É corajosa, independente, carinhosa, verdadeira. Suporta todas as mazelas de sua doença terrível muito melhor do que eu, que me desmancho em lágrimas, covardemente.
Por hora, é esperar.