segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Empatia


Daí que hoje veio um assunto que volta e meia está pautado diante de mim: empatia. 

As pessoas nem se quer se dão ao trabalho de entender o que isso significa, realmente. Porque no senso comum, basta se pôr no lugar do outro, hipoteticamente. Mas a empatia tem a ver com o modo que você vê o mundo, as pessoas deste mundo, os animais deste mundo, as plantas deste mundo, as coisas todas deste mundo. Tudo.
Empatia real evitaria praticamente todas as calamidades do mundo causada pela mão humana.

Você pode berrar pra todo mundo (por exemplo) que todos os patos do mundo  podem virar foie  gras, que você não liga, que pouco se importa,  que não está nem aí,  que nem come essa merda, e que isso não te afeta em nada.  (Poderiam ser as raposas e os casacos de pele, as focas e a pesca, os cães abandonados e situação calamitosa das cidades)

Ok, país livre (ainda) e democrático (ainda). Seu direito à opinião é sagrado (pelo menos pra você mesmo). Mas você tem CERTEZA que isso não te afeta MESMO...?

Porque você pode não ter empatia nenhuma pelos patos (nem raposas, nem focas nem cães), mas se você conhece alguém que se importa com isso, que se sente mal pelo método do foie gras (dos casacos de pele, da barbárie da mortandade do Ártico, da fome dos cães abandonados), de algum modo o assunto é relevante para você (que não percebeu, claro).

Se há alguém, dentre as pessoas que você conhece, alguém de quem você gosta, que está em seu círculo de amizade (ou familiar) que se preocupa com o assunto, eu pergunto: a opinião desta pessoa não vale nada para você? Você nunca dá importância à opinião das pessoas com quem convive? Você é incapaz de se pôr no lugar desta pessoa e ver mundo pelos olhos dela? (Obviamente não devemos concordar com tudo, não somos robôs, e é justamente por esta perspectiva que eu discordo de muitos amigos, e embora me ponha facilmente na posição deles, quando a opinião é – e costuma ser – egoísta e prejudicial  A ELES MESMOS, faço mais questão ainda de discordar)


Porque ver o mundo a partir da perspectiva "não é problema meu" é fácil, e 99,999999% das pessoas trilharam este caminho em algum momento ou por muitos anos. (aquele 0,0000001% são santos ícones - avatares da humanidade).

Mas ver o outro... Ver o outro é mais do que comparar situação financeira, educacional, social.

Ver o outro é emoção. É olhar as nuances delicadas e intrincadas da forma como o outro vê o mundo. E pensar que por alguma razão há coisas que importam para este outro, e que aparentemente não importam para você, mas que se você tem consideração, admiração e amizade por esta pessoa, é porque respeita o modo de pensar dela.  Respeita mesmo?

Daí que você não precisa ter empatia nenhuma pelos patos (raposas, focas ou cães), mas você pode vir a ter, se compreender o modo de ver do outro. Se a pessoa for “importante” para você. Pode chegar um dia que você tenha tornado essa percepção delicada em algo tão grande, que você sinta empatia pelo mundo onde você vive, e quem sabe se torne alguém melhor.

Mas é claro que você pode também continuar sendo um cuzão egoísta de merda, que olha só pro seu umbigo mal lavado, que se importa mais em ter do que ser, e ficar observando as pessoas mudarem e se distanciarem, porque nada mais haverá em comum, nada mais justificará a ligação fraterna, não haverá mais o que respeitar e admirar, tão diferentes irão se tornar…