quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Les Choix

 Eu procuro, há muito tempo entender minhas escolhas. Os mecanismos que fazem funcionar esse negócio que as pessoas chamam de livre arbítrio.

Não as decisões bobas do dia a dia, muito menos as escolhas quase inconscientes que faço sem perceber, como o que comer, o que vestir. Estas eu considero bestas e sem a menor importância. Trabalho, carreira, dinheiro. Estas também eu desprezo (relativamente),  pois no final das contas são praticamente matemáticas. As escolhas que me interessam são as que faço com gente.

Porque  determinadas amizades entre milhões de pessoas, desprezando totalmente outras tantas que poderiam ser totalmente interessantes. Porque aquela pessoa especial em detrimento a tantas outras, talvez tão especiais quanto e muito mais descomplicadas. Porque escolher. Sempre achei que estas escolhas não eram feitas por mim, nem consciente nem inconscientemente. Pensava que estas escolhas eram feitas por algo meio esotérico, como se a minha vida fosse regida por um roteiro similar ao dos filmes. As vezes eu viajava profundamente tentando adivinhar o final, os culpados, os inocentes e a reviravolta da trama, exatamente como fazia no cinema. Porém no cinema  sempre foi mais fácil, porque independentemente da quantidade de imersão que me permito no enredo do filme, o prazer e a dor da vida não são comparáveis. E lidar com dor e prazer reais incapacita na prática o desprendimento que eu tenho numa poltrona no escuro.

A grande diferença entre escolher alguém, em relação a escolher algo, é que alguém também escolhe, diferente de uma roupa ou um prato de comida. E é com isso que eu, no fundo, não sei lidar. Com as escolhas dos outros.  Eu não consigo aceitar que não tenho poder sobre essas escolhas. Mas o fato de não conseguir entender minhas próprias escolhas rapidamente me põe de volta à razão de que jamais também vou entender ou decidir sobre as escolhas dos outros.

Mais do que isso, o que me incomoda profundamente é o encadeamento que escolhas têm. Uma minha, outra de outro, uma nova minha. Eu odeio do fundo do coração ter que escolher algo que não queria simplesmente porque a escolha de alguém me obrigou a isso.

E no fundo, no fundo o que mais  enlouquece é saber que as escolhas não refletem obrigatoriamente as vontades. Porque vontades e desejos são muito mais evoluídos do que as escolhas. Os desejos mandam e você simplesmente luta contra eles, usando suas escolhas, como armas de rolha tentando matar o Godzilla.

A minha escolha foi feita, não contra minha vontade, nem contra meu desejo, mas sequência da cadeia de escolhas pode vir me obrigar a fazer algo que o meu coração vai berrar contra. E eu sei o que quero., quem quero e como quero;

E no final das contas, desejo apenas que eu  seja  também uma escolha…


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Inception

Quando Neo saiu da Matrix soube que a vida que tinha era uma ilusão, e de fato não existiu como experiência real. Quando Jake Sully passou a viver mais intensamente em seu Avatar, as experiências passaram a ser misturadas, e ele perdia a noção de qual das duas realidades era “real”, e sua vida de verdade é que parecia ser a menos real.

Eu me sinto plugada na Matrix e em Pandora;

A vida me trouxe de presente (assim como para Jake e Neo) uma oportunidade de ver com outros olhos, sentir com outros sentidos, despertar os sentidos adormecidos. Começar de novo sabendo o que antes não sabia, viver de verdade;

Mas toda a vez que tenho que “acordar”,  a frustração toma conta. Não sei mais qual das minhas duas vidas é real, qual delas é mesmo a verdade; Eu sei perfeitamente em qual delas eu quero estar (tal como meus adoráveis protagonistas de “Avatar” e “Matrix”), mas eu meio que  me perco no caminho entre essas duas “vidas”;

 Tem dias que me vejo como Dom Cobb (Leonardo DiCaprio em Inception - A Origem): precisando de um “totem” pra saber se estou dormindo ou se estou acordada; Nunca sei de fato em nível de consciência me encontro. Tudo culpa do Gato Amarelo. 

Parece que antes dele as minhas lembranças são em preto-e-branco; Mas quando ele apareceu, trouxe riso, balões vermelhos, surpresas bobas, efervescência e alegria para a minha vida.

Neo precisou morrer. Dom Cobb não sabe se está acordado ou dormindo. Mas Jake decidiu migrar para a vida que ele queria; Mesmo correndo riscos, mesmo que as condições fossem adversas; Ele tomou as rédeas daquela carruagem desgovernada que ele chamava de existência e rumou para sua verdadeira vida: a que ele sonhou desde sempre, e que diante dos seus olhos era real e possível, bastando apenas ele querer. E arriscar;

De todas as mudanças que preciso fazer na minha vida, a mais difícil é em relação ao trabalho. Preciso abandonar definitivamente a estrada que conheço tão bem. Preciso fazer isso, sem olhar para trás. Começar outra vida às vezes parece difícil, mas é também a essência da busca da felicidade. É exatamente o que precisamos abandonar (e que não ousamos) que nos trará o resultado que esperamos.

O ser humano mede sua realidade por sua miséria. Enquanto sofre, enquanto pena, enquanto se enfurna na própria infelicidade ele finge que percebe que está vivo e que a vida é mesmo cruel e que tudo é assim mesmo. Pq enquanto estamos felizes não vemos o tempo, nem a dor, nem a tristeza, nem nada do que usamos para medir nossas vidas. Há um vício na rotina sufocante, na miséria da existência sem cor. Somos viciados em sofrer. Por isso é tão difícil abrir mão do dinheiro, de certos confortos, de certos caminhos conhecidos. Enfrentar o desconhecido, atirar-se do despenhadeiro com os olhos abertos e esperar por asas que brotem no meio do caminho é para poucos (ainda não tenho certeza se vou estar inclusa nesse seleto grupo de corajosos seres);

 

Evidentemente prefiro o final de Jake…