Eu procuro, há muito tempo entender minhas escolhas. Os mecanismos que fazem funcionar esse negócio que as pessoas chamam de livre arbítrio.
Não as decisões bobas do dia a dia, muito menos as escolhas quase inconscientes que faço sem perceber, como o que comer, o que vestir. Estas eu considero bestas e sem a menor importância. Trabalho, carreira, dinheiro. Estas também eu desprezo (relativamente), pois no final das contas são praticamente matemáticas. As escolhas que me interessam são as que faço com gente.
Porque determinadas amizades entre milhões de pessoas, desprezando totalmente outras tantas que poderiam ser totalmente interessantes. Porque aquela pessoa especial em detrimento a tantas outras, talvez tão especiais quanto e muito mais descomplicadas. Porque escolher. Sempre achei que estas escolhas não eram feitas por mim, nem consciente nem inconscientemente. Pensava que estas escolhas eram feitas por algo meio esotérico, como se a minha vida fosse regida por um roteiro similar ao dos filmes. As vezes eu viajava profundamente tentando adivinhar o final, os culpados, os inocentes e a reviravolta da trama, exatamente como fazia no cinema. Porém no cinema sempre foi mais fácil, porque independentemente da quantidade de imersão que me permito no enredo do filme, o prazer e a dor da vida não são comparáveis. E lidar com dor e prazer reais incapacita na prática o desprendimento que eu tenho numa poltrona no escuro.
A grande diferença entre escolher alguém, em relação a escolher algo, é que alguém também escolhe, diferente de uma roupa ou um prato de comida. E é com isso que eu, no fundo, não sei lidar. Com as escolhas dos outros. Eu não consigo aceitar que não tenho poder sobre essas escolhas. Mas o fato de não conseguir entender minhas próprias escolhas rapidamente me põe de volta à razão de que jamais também vou entender ou decidir sobre as escolhas dos outros.
Mais do que isso, o que me incomoda profundamente é o encadeamento que escolhas têm. Uma minha, outra de outro, uma nova minha. Eu odeio do fundo do coração ter que escolher algo que não queria simplesmente porque a escolha de alguém me obrigou a isso.
E no fundo, no fundo o que mais enlouquece é saber que as escolhas não refletem obrigatoriamente as vontades. Porque vontades e desejos são muito mais evoluídos do que as escolhas. Os desejos mandam e você simplesmente luta contra eles, usando suas escolhas, como armas de rolha tentando matar o Godzilla.
A minha escolha foi feita, não contra minha vontade, nem contra meu desejo, mas sequência da cadeia de escolhas pode vir me obrigar a fazer algo que o meu coração vai berrar contra. E eu sei o que quero., quem quero e como quero;
E no final das contas, desejo apenas que eu seja também uma escolha…