sexta-feira, 6 de abril de 2012

Solitudine

 Estar sozinho é engraçado, louco, angustiante, libertário e triste, tal qual estar com alguém. 

No entanto, estar sozinho é absolutamente o oposto de estar com alguém.

Estar sozinho é fechar as mãos no nada quando se atravessa a rua correndo e não se tem uma mão para segurar.

É acordar sem saber o que será do dia porque planejar sozinho dá preguiça.

É querer contar tanta coisa para alguém, mas para quem? Ter um sem-número de coisas acontecendo na sua vida e estar precisando que alguém te ouça e te socorra e esteja do seu lado, não qualquer pessoa, AQUELA pessoa;

A vida simplesmente acontece para quem está sozinho, às vezes sem que a gente perceba, pois é mais fácil ter noção de si mesmo através de outra pessoa.

Estar sozinho é fazer dengo sozinho na cama, sem ninguém para apenas encaminhar o ombro um pouco mais perto.

É comer doce demais porque sua boca precisa de um incentivo para continuar salivando vida.

É comer doce demais porque estar sozinho dá uma tremedeira estúpida de hipoglicemia.

É o chocolate que substitui mal e amargamente o sexo.

Estar sozinho é dormir até tarde no domingo. Não para congelar o tempo na alegria, mas para fazer de conta que o tempo não existe.

É ter a sensação de que ninguém te olha, pelo menos não como você gostaria de ser olhada.

Estar sozinha é estar solta e, no entanto, é estar amarrada ao chão porque nada te faz flutuar, sonhar, divagar.

Estar sozinho, ou estar sozinha, pode acontecer com qualquer um.

Estar sozinha é não suportar ouvir a palavra solidão porque ela faz sentido. E o sentido dela dói demais.

Estar sozinho é ter uma risada nervosa, de quem segura um grito e um choro enquanto ri. Um riso falso para se convencer de que é possível ficar sozinho sem ficar deprimido.

Estar sozinho é usar roupas provocantes sem se sentir sexy com elas. É conferir a caixa de e-mails com uma freqüência que beira a compulsão. É chorar do nada. É acordar do nada. É morrer de medo do nada que fica no estômago.

Estar sozinho é uma coisa física, ou melhor, é a falta dela. Você se sente oco por dentro, por isso aquele respiro profundo de lamentação.

É cogitar enlouquecer.

O ombro pesa porque é tenso ficar sozinho.

Quando chove, venta, escurece, e você está sozinho, você lembra de Deus e do quanto é pequeno.

Estar sozinho é se aproximar de Deus por piedade própria e não por agradecimento, que é o que nos faz aproximar Dele quando estamos amando.

Estar sozinho é detestar ficar em casa. Ficar em casa sozinho, quando se está sozinho, é muita solidão.

Então você sai (ou faz que nem eu, fica em casa com mais raiva ainda), só para não ficar em casa sozinho.
E descobre o quanto você é sozinho. E volta pra casa sozinho, e chora vendo fotos.

É trabalhar para passar o tempo. De preferência sábados, domingos e feriados, porque quando se tem tempo para estar com alguém que não vem, que não está ou que não existe, esse tempo amargura, entristece e revolta.

É estar pronta para algo novo e não agüentar mais dias iguais.

É ocupar a vida de açúcar, intrigas, fofocas, encrencas. Aventuras tortas.

É ocupar a vida dos outros com reclamações, lamentações, dúvidas e carências.


É estar aqui, aos gritos mas no mais absoluto silêncio, se sentindo desimportante, tendo uma auto-piedade ridícula e insalubre, com raiva de ter permitido perder as rédeas da sua própria vida, por escolha consciente;
 
Resumindo: estar sozinho é triste, enche o saco dos outros e deve fazer FAZ mal para a saúde.



quarta-feira, 4 de abril de 2012

A verdade

A verdade, mais tola e mais simples, mais certa e mais secreta é que me fazes falta;


Esse vácuo, esse oco sem precisão ou contorno, sem nome ou lógica.


Tu me fazes falta e me fazes carregar comigo uma ausência indefinível e perpétua, um esgar que é antes um tatear no vazio do que um estender de mão em direção a algo.


Tu me fazes falta, me cavas um buraco, pões em meu rosto um borrão que não me desfigura, antes me torna um enigma para mim mesma.


E venho me definindo e me reconfigurando ao redor disto: da tua falta.


Sou esta que se ressente da tua ausência sem saber mais sequer como é a tua presença, que forma tem o teu corpo, qual o cheiro do teu hálito, qual a cor dos teus olhos, que gosto tem a tua boca assim que despertas.


E no entanto sei disso: me fazes falta, essa falta ampla e completa, que toma o dia cada vez que me vem o teu nome, essa falta que abre uma fresta no tempo, que suspende os ruídos do mundo, que modifica a direção do vento e que toma o centro de mim e ao redor da qual eu brinco de ser uma outra, que eu inventei para parecer que continuei vivendo.
 
 
 
 
Patrícia Antoniete